Recordatório

Fechar

Início

Galeria

Contato

2.3.1 A velocidade do tempo


Parei numa casa em que a varanda estava cheia de brinquedos jogados, um verdadeiro parquinho. Bati palmas e esperei alguém se apresentar. Sem muita pressa, surgiu uma jovem com uma criança nos braços. Seu nome era Lislane. Logo vi que se tratava de uma jovem mãe e sua filha. Apresentei-me e perguntei pela fotografia mais antiga da casa. Ela aceitou participar da coleta para o Recordatório. Ao me mostrar a imagem mais antiga, surpreendi-me: era uma fotografia dela e de sua prima no Cristo Redentor, no Rio de Janeiro. Mas pelo que podia observar, aquela imagem não era muito antiga. Lislane disse-me que havia feito aquela viagem havia cinco anos, mas aquela era a imagem mais antiga de sua casa. Pela maneira que ela me falou daquela viagem, pareceu-me que foi um marco importante em sua história e que, para ela, já fazia muitos anos daquela experiência. Os cuidados com sua filha haviam transformado sua vida. Falamos um pouco da maternidade e suas demandas. Quando lhe disse que eu poderia fazer uma polaroide daquele momento, ela prontamente se recusou a ser fotografada. Lislane me disse que não estava arrumada e eu poderia tirar uma fotografia de sua filha e seu pai. Saímos para a casa vizinha e encontramos seus pais. O avô da criança se tornou criança imediatamente e a colocou no braço. Nem sabia do que se tratava a minha visita, mas ele foi logo se arrumando para o registro, contente com a neta nos braços. Ao assinar a autorização da imagem, Lislane muito tímida me falou que não tinha o hábito de imprimir fotos. Aquela era uma lembrança da viagem e havia sido impressa naquele local com um homem que fazia este tipo de lembrança no Rio de Janeiro. Eu agradeci pela participação e saí, refletindo como o tempo é algo relativo e subjetivo demais.


Ao me apresentar a fotografia mais antiga da sua casa, Lislane referia-se a um tempo recente e, ao mesmo tempo, distante, na sua forma de olhar aquela imagem com saudosismo e muito distanciamento. Mas estávamos com uma imagem feita havia apenas cinco anos. Lislane não havia mudado muito exteriormente, mas não posso dizer de seu interior. Ao falarmos da fotografia mais antiga de sua casa, temas importantes apareceram na nossa conversa como maternidade, passado, tempos diferentes etc.


O tempo na fotografia sempre é diferente. Ao registrarmos uma imagem, deslocamos imediatamente os tempos entre passado e presente. Passamos a “guardar” um momento específico. Isso é um jogo fascinante na fotografia.